Experiência imersiva na cultura indígena Huni Kuin

SER-NATUREZA

Txaná Kaya Keneya Kayawei – Jornada

É com grande alegria que convidamos tod@s para uma experiência imersiva com um grande pajé do Alto Rio Jordão e a sua família. Sabino Txaná Ixã é um profundo conhecedor dos cantos Huni Meka, foi mestre de muitos txanás e é uma das maiores referências do povo Huni Kuin no que diz respeito ao saber tradicional das canções.

Programa . 16 julho 2025 .

Programa . 16 julho 2025 .

© Enric Rubio / BoCA - Bienal de Artes Contemporâneas

Atelier Carlos Botelho [Parede.Cascais] 

 encontro integrado em TXANÁ KAYA KENEYA KAYAWEI DE INTERCÂMBIO CULTURAL HUNI KUIN EM PORTUGAL numa parceria INSTITUTO GUARDIÕES DA FLORESTA, CASA - ÁRVORE:  Laboratório de Arte Comunitária e Ecologia, CULTURA NO MURO e CASA – Laboratório de Criação

com ZENIRA NESHANE HUNI KUIN, TENÊ HUNI KUIN e SABINO DUA IXÃ


Roda de conversa “Ser-Natureza e Ser-Cultura”

Perspectivismo ameríndio, dentro do contexto da relação “Natureza e Cultura” e a maneira como essas sociedades se constituem com um forte traço identitário, onde esses temas não se separam.

09h30-10h30

Oficina de tecelagem Huni Kuin

A confecção da tecelagem Huni Kuin envolve vários processos, que vão desde o plantar e a colheita do algodão aos cantos e histórias  que perpassam esse conhecimento. Nessa oficina teremos a oportunidade de experienciar essa manifestação cultural de vasto universo simbólico.

Oficina de canto Huni Kuin

Na cultura Huni Kuin, os cantos podem ter diferentes funções na sociedade, que vão desde curar as doenças e fabricar corpos saudáveis, a garantir boas colheitas e construções resistentes. Na oficina de cantos, vamos percorrer, através de histórias e músicas tradicionais, os caminhos dessa relação numa sociedade amazônica.

10h30-13h00

13h00 – 15h00

Almoço*

Pintura tradicional - Grafismo Kenê

Os kenês são padrões de desenho inspirados na geometria da natureza, que possuem diferentes funções sociais. Nessa oficina vamos conhecer o grafismo Huni Kuin em seus diferentes contextos, através da prática da pintura corporal.

15h00 – 17h00

Celebração do KatxaNawa e Plantação

O KatxaNawa é uma Manifestação Cultural Huni Kuin, pela fertilidade e abundância de toda a natureza. São entoados cantos para todos os processos do plantio, que vão desde fortalecer as sementes ao resultado de uma colheita farta. Não se restringindo somente ao reino vegetal, mas se ampliando a diversas formas de vida na natureza.

17h00 – 19h00

* O almoço será em formato piquenique. Temos disponivel lunch box [shot de gaspacho de tomate e morango e pita falafel de grão de bico com tahini e maionese vegan] - 10€


O valor angariado reverterá para a aquisição de embarcações para os Huni Kuin

O valor angariado reverterá para a aquisição de embarcações para os Huni Kuin

Inscrições

Valor diário 70€

Disponibilizamos bolsas para quem não tem possibilidade de pagar, mediante análise. Para mais informações, escreve-nos para culturanomuro@gmail.com

shot de gaspacho de tomate e morango + pita falafel de grão de bico com tahini e maionese vegan

Saber +

  • A Jornada Txaná Kaya Keneya Kayawei é um projeto de fortalecimento cultural, desenvolvido em cooperação entre o povo Huni Kuin e o Instituto Guardiões da Floresta, que se estende ao território cultural europeu, através de uma linha programática de oficinas e rodas de conversa (palestras e conferências), com o objetivo de fomentar e reforçar a relevância da transmissão de saberes e culturas ancestrais na sociedade contemporânea. O nome, escolhido pelo professor Renato Maná, da Aldeia Novo Segredo, remete à cura e à transformação através da arte, do universo simbólico e da troca de saberes.

    As práticas artísticas e sociais constituem um traço fundamental no desenvolver do conhecimento e no processo de aprendizagem, dentro da cosmovisão Huni Kuin. O modo de transmitir e viver o conhecimento manifesta-se como uma prática de partilhar, engajar, preservar, cuidar da saúde e dar continuidade. Ao promover uma comunicação mais ampla com esta visão de educação, torna-se possível aprofundar o entendimento sobre ancestralidade e resistência.

    Este resgate e partilha de saberes propõe realizar um programa de intercâmbio entre instituições culturais e académicas na Europa e a prática cultural Huni Kuin. Pretende-se, acima de tudo, proporcionar uma reflexão ativa entre os territórios Huni Kuin e europeu, sobre a potência da continuidade dos saberes e das práticas de transmissão como caminho de desenvolver politicamente, economicamente e socialmente, por via das Artes e da Cultura.

  • A jornada Txaná Kaya Keneya Kayawei surge a partir do movimento de pajés e de grandes representantes da cultura Huni Kuin, no sentido de repensar a educação a partir de uma perspetiva que resgata os processos tradicionais de troca de saberes. Neste modelo, o conhecimento é transmitido de forma natural, no quotidiano das comunidades, passando oralmente de geração em geração.

    Este movimento tem vindo a ser denominado Shubu Hiwea – “escola viva” no idioma hatxa kuin – nome atribuído pelo pajé Dua Busse, durante as suas investigações. A designação visa criar uma ponte entre o modo de vida tradicional e o atual movimento de registo, partilha e transmissão de conhecimentos e costumes.

    Na visão de mundo Huni Kuin, não existe separação entre natureza e cultura, e todo o processo educativo está intimamente ligado ao ambiente. A aprendizagem manifesta-se de forma simultaneamente comunitária e individual, desde a gestação da criança até aos ritos de passagem no final da vida.

    Trata-se de uma experiência de resistência, que tem sido descoberta, vivida e construída de múltiplas formas: no dia-a-dia das aldeias; nas trocas entre mestras tecedeiras e aprendizes; entre anciãos e crianças; alunos e professores; bem como em oportunidades de vivência, formação e intercâmbio cultural fora das comunidades.

    Neste contexto de reflexão local, o Instituto Guardiões da Floresta tem colaborado, desde a sua fundação em 2010, com a viabilização de práticas de intercâmbio cultural. Além de diversas programações no Brasil, tivemos em setembro de 2023 e julho de 2024, a primeira e segunda edição da Jornada Txaná Kaya Keneya kayawei na Europa, passando por Portugal, Itália, Alemanha e Finlândia. Essas oportunidades despertaram o interesse das partes envolvidas em aprofundar as relações e continuar as trocas culturais.

  • O povo Huni Kuin pertence ao tronco linguístico Pano e habita a floresta tropical na região situada entre os contrafortes dos Andes, no Peru, e o sul da Amazónia e do estado do Acre, no Brasil. No território brasileiro, estão presentes sobretudo nas regiões dos vales dos rios Purus e Juruá, em áreas próximas aos municípios de Santa Rosa, Manoel Urbano, Feijó, Tarauacá e Jordão. Vivem em 12 terras indígenas de ocupação exclusiva da etnia, bem como em algumas áreas partilhadas com outros povos, como os Madija, Ashaninka e Shanenawa (Fundação, 2010).

    O nome Huni Kuin, que se traduz por “Gente Verdadeira”, é a forma como este povo se autoidentifica. No entanto, também são conhecidos como Kaxinawá, designação historicamente utilizada por outros povos indígenas para se referirem a esta etnia.

  • Tempo  das  Malocas:    Marcado  pela  existência  de  uma  casa  comum,  onde  moravam muitas famílias juntas; 

    Tempo  das  Correrias:  Época  em  que  começou  os  primeiros  contactos  com  o  homem branco e precisaram se deslocar em longas correrias para não serem  mortos, capturados ou catequizados; 

    Tempo do Cativeiro: Após o contacto com o homem branco, foi uma época em  que eram escravos nos seringais para tirar borracha; 

    Tempo  dos  Direitos:  Foi  quando  começou  o movimento  pela  demarcação  da  terra indigena e poderam se organizar com autonomia de gestão do território;  

    Tempo Xina Bena: Xina Bena significa pensamento bom em hatxa Kuin, esse é  o  momento  atual,  em  que  os  Huni  Kuin  têm  relativa  gestão  do  território  e  podem viajar e levar a cultura para outros lugares. 

  • Trata-se de uma terra indígena demarcada no início da década de 1990, conquistada após um processo de luta, articulação e organização que marcou o chamado “tempo dos direitos” – período em que os Huni Kuin fizeram a transição de uma realidade de exploração nos seringais para um cenário de autogestão e gestão do seu território. Ao longo do rio Jordão, encontram-se 36 aldeias, sendo a última situada a poucos quilómetros da fronteira com o Peru.

    O povo Huni Kuin que habita este território preserva grande parte dos seus conhecimentos ancestrais, relacionados com ritos de passagem, festas, narrativas tradicionais, culinária, plantas medicinais e canções sagradas. A sua língua materna, o Hantxa Kuin (língua Huni Kuin), é amplamente falada, e a relação que mantêm com a natureza é profundamente enraizada, expressando-se de forma singular e identitária.

  • Zenira Neshane Huni Kuin . Indígena Huni Kuin

    Zenira Neshane é filha de Maria Sabino Huni Kuin e Sabino Ixã Huni Kuin, duas importantes lideranças do seu povo. Desde muito jovem, aprendeu com a mãe os saberes tradicionais das mulheres Huni Kuin, como o artesanato, o grafismo, a culinária e os conhecimentos espirituais. Para além de mestra e artesã, Neshane é uma das poucas mulheres reconhecidas como pajé na sua cultura, graças ao vasto conhecimento que detém sobre a medicina tradicional do seu povo.

    É também uma das pioneiras do movimento feminino Huni Kuin, sendo das primeiras mulheres da sua terra indígena a sair do território, conduzindo oficinas e actividades de intercâmbio cultural em diversos estados do Brasil e no exterior.

    Sabino Dua Ixã Huni Kuin . Ancião, líder político e espiritual

    Sabino Dua Ixã é um ancião do povo Huni Kuin, com atuação destacada como liderança política e espiritual. Viveu e trabalhou nos seringais e participou ativamente da luta pela demarcação das terras indígenas. Aprendeu com grandes pajés do seu povo e tornou-se um dos principais mestres do Huni Meka, as canções cerimoniais Huni Kuin.

    Atualmente, vive com a sua família numa das aldeias mais remotas do Alto Rio Jordão, num local com acesso muito limitado a bens de consumo urbanos, onde se preserva uma relação profunda e sagrada com o território.

    Tenê Huni Kuin . Líder jovem, pajé e coordenador cultural

    Tenê Huni Kuin é o irmão mais novo de Txana Ixã e uma importante liderança da aldeia Novo Segredo. Jovem pajé, é especialista em medicinas tradicionais e nos cantos Huni Meka. Coordena o Ponto de Cultura da sua aldeia e o projeto “Casa de Essências”, dedicado à extração de óleos essenciais e hidrolatos a partir de plantas da floresta.

    Além disso, participou na produção do filme Shuku Shukuwe – A Vida é para Sempre, realizado e editado pelo próprio povo Huni Kuin.

    Mediação, Pesquisa e Produção

    Rodrigo Moreiras . Psicólogo, arqueólogo e articulador intercultural

    Rodrigo Moreiras é psicólogo, formado pela PUC-Rio, e mestre em arqueologia pelo Museu Nacional do Rio de Janeiro. Colabora com o povo Huni Kuin há 16 anos, em projetos ligados à saúde indígena, autonomia financeira, infraestrutura, etnoturismo e intercâmbio cultural. É fundador do coletivo Guardiões Huni Kuin do Rio de Janeiroe do Instituto Guardiões da Floresta, onde atua como diretor científico.

    Organiza experiências interculturais em diversos países e coordena o projeto Expedição Huni Kuin. Atua também como psicoterapeuta, integrando saberes da psicologia com os conhecimentos dos povos originários para apoiar processos terapêuticos individuais e colectivos.

    Mariana Carvalho . Produtora cultural e educadora

    Mariana Carvalho é produtora cultural e educadora, com pesquisa em educação indígena pela Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro. Trabalha com o povo Huni Kuin há 16 anos, desenvolvendo projetos nas áreas de educação indígena, intercâmbios culturais, infraestrutura e autonomia financeira.

    É cofundadora do coletivo Guardiões Huni Kuin do Rio de Janeiro e do Instituto Guardiões da Floresta, onde atua como vice-presidente. Coordena o programa de intercâmbio cultural do instituto, o projeto Expedição Huni Kuin, e colabora ativamente para a melhoria das condições de vida nas aldeias da terra indígena do Rio Jordão.

Formadores ZENIRA NESHANE HUNI KUIN, TENÊ HUNI KUIN e SABINO DUA IXÃ Co-criação INSTITUTO GUARDIÕES DA FLORESTA . CASA – Laboratório de Criação, CULTURA NO MURO . CASA-ÁRVORE: Laboratório de Arte Comunitária e Ecologia . Produção executiva Diana Coelho, Filipa Serra, Amandine Gameiro, Cláudia Gonçalves e André Fausto . Mediação, Pesquisa e Produção Rodrigo Moreira e Mariana Carvalho . Consultoria, Mediação e Curadoria Ana Rocha . Leituras Colectivas Amandine Gameiro e Álvaro Fonseca . Designers: Angharad Hengyu Owen


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